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RUSSIAN DOLL - BONECA RUSSA *Tem Spoillers"

  • Foto do escritor: Karen Cruz
    Karen Cruz
  • 21 de fev. de 2019
  • 8 min de leitura

Recentemente a Netflix lançou uma série chamada “Boneca Russa”, que já esta sendo considerada por muitos a melhor série do ano.

Mas, vamos lá, será que a série é tudo isso mesmo?

Eu assisti a série toda em dois dias, e tenho que admitir, eles realmente acertaram na mão, no que diz respeito a essa série.

A Netflix tem feito ótimos trabalhos, no campo complexo da psique humana nos últimos meses, mas vamos focar nessa série.

Você sabe o que é uma Boneca Russa?

As Matrioskas ou Bonecas Russas são bonecas de madeira, caracterizadas por reunir uma série de bonecas de tamanhos variados que são colocadas uma dentro das outras.

De acordo com a cultura russa, as matrioskas simbolizam a ideia de maternidade, fertilidade, amor e amizade.

O fato de uma boneca sair de dentro de outra maior representa o ato do parto, quando a mãe dá à luz a sua filha e, consequentemente, a filha dá à luz a outra criança, e assim sucessivamente.

Para os russos, presentear alguém com uma matrioska é um sinal de grande afeto e desejo de vida longa e feliz.

As matrioskas são tradicionalmente feitas de madeira e em formato cilíndrico.

As feições e características das bonecas são detalhadas através da pintura manual.

Por norma, as matrioskas podem abrigar entre 6 e 7 bonecas de diferentes tamanhos, sendo que a menor fica no interior de todas e, ao contrário das outras, não possui uma abertura na sua estrutura.

Originalmente, as matrioskas surgiram no Japão, mas acabaram por ser incorporadas à cultura russa.

Aliás, o nome “matriohska” foi escolhido como uma tentativa de adaptar a boneca originalmente japonesa à cultura russa, sendo que durante o final do século XIX a maioria das meninas russas se chamavam Matriona.

Atualmente, as matrioskas representam um dos principais objetos artesanais da cultura russa. A importância das bonecas russas é tão grande que em 2001 foi inaugurado o Museu da Matrioska, em Moscou.

Mas a para a cultura japonesa qual o significado da boneca?

No Japão elas são um pouco diferente, são chamadas de Kokeshi (em japonês 小芥子 ou こけし) são bonecas japonesas, originárias do norte do país.

Feitas em madeira, possuindo um tronco simples e uma grande cabeça, pintadas com finas linhas para delinear o rosto.

Seu corpo tem desenhos florais, pintados sobre fundo vermelho, preto, e algumas vezes amarelo, envernizadas por uma camada de cera.

Uma marcante característica das Kokeshi é a ausência de braços e pernas. Na parte inferior é marcada com a assinatura do artista.

Metafóricamente as bonecas simbolizam um objeto com o objetivo de levar todo o mal que as crianças porventura possam sofrer em vida.

Os japoneses, especialmente da Ilha de Okinawa adotaram o costume de usar a boneca em cerimônias de enterro ou crematório de seus entes queridos.

Crianças com morte pré-matura, ou antes de completar os 12 meses de idade teriam sua alma fixada nas tradicionais bonecas, para que não se sentissem perdidas na situação além morte.

Os familiares mantém a boneca sobre as lápides ou em casa quando o corpo é cremado.

É tradição adotar bonecas "abandonadas" com a justificativa de boa sorte no lar.

Mas agora que sabemos um pouco sobre a história e as crenças que envolvem a Boneca vamos a série.

No seu aniversário de 36 anos Nadia morre, mas, inexplicavelmente ela retorna, novamente no seu aniversário para morrer de novo, e de novo, e de novo....

A série tem uma trilha sonora marcante, e usa de cores e imagens gráficas bastante intensas, eu diria até um pouco assustadoras.

Em cada morte que a personagem retorna somos apresentados e elementos novos, que embora a personagem viva constantemente um único dia de sua vida, algumas coisas vão se modificando em cada retorno pós morte desta.

Até ai parece até um pouco clichê, afinal, essa coisa de looping temporal, é uma ideia que já foi abordada varias vezes, e em diferentes gêneros, onde o personagem morre, e volta para viver esse ultimo dia da sua vida, na esperança de evitar o fim inevitável que é a sua morte, ou viver esse ultimo dia de uma forma melhor aprender algo que ele precise, e bla bla bla.

Por um lado, a temática da série também não foge muito disso, mas o desenrolar da trama a maneira que estes fenômenos se apresentam e são percebidos, isso foi um tanto inovador.

Comecemos, pelo inicio, logo na primeira cena, vemos nossa personagem Nadia, em um banheiro, olhando para o seu reflexo em um espelho na parede sobre a pia.

E podemos fazer a seguinte reflexão. Embora a personagem estivesse olhando para o seu reflexo no espelho daquela parede, ela realmente conseguia se ver, se enxergar enquanto pessoa? Mas continuemos um pouco mais adiante.

Batem na porta, a personagem sai do banheiro e então vemos que ela esta em uma festa.

É a sua festa de aniversário, preparada por uma de suas melhores amiga, tem bastante gente na festa o que em um primeiro momento leva o telespectador a seguinte interpretação....” Nossa! Ela é bem popular, olha quanta gente tem na festa dela!”

Adiantemos mais um pouquinho, na festa vemos que tem bebidas e drogas, e a personagem sai de lá acompanhada por um homem, que aparentemente não conhecia muito bem, com quem se envolve sexualmente naquela noite.

Um outro possível pensamento é “ Como ela é liberal, vive a vida intensamente sem se preocupar com padrões impostos pela sociedade, como ela é empoderada”

A medida que a personagem vai morrendo e voltando, podemos observar que a vida dela não é tão perfeita assim, o tom vermelho forte com o nome da série que aparece a cada novo episódio, parece sangrar na nossa vista de uma maneira quase visceral, e não é por acaso.

E aos poucos somos levados a compreender, e relacionar melhor o nome da série com a trama que se desenvolve aos nossos olhos.

A nossa personagem Nadia, de fato, é a nossa Matrioska, ou seja, ela é a nossa própria Boneca Russa, em cada morte, conhecemos uma nova bonequinha que está no interior da personagem.

Muito mais autentica e genuína do que a anterior.

É possível observar que os comportamentos apresentados inicialmente pela personagem, são de fuga e esquiva, de uma realidade não tão divertida e glamorosa quanto a sua festa de aniversário.

Não demora muito na série para passarmos a ver a personagem como alguém triste e solitário, suas relações afetivas são bastante superficial, suas melhores amigas aparecem na série, assim como na sua vida, apenas nos momentos de diversão.

Uma terapeuta com quem Nadia e sua mãe moraram quando ela era uma criança, é o laço mais próximo de uma família que a personagem possui.

Na chamada para a série tem a seguinte frase “ Morrer é fácil, viver é que é difícil”, embora metafórica, essa frase na série, é tratada de uma maneira bastante literal.

Boneca Russa,é uma série de camadas, e cada pessoa pode ter sua própria interpretação da série, de acordo com aquilo que ela mesma esta vivenciando no momento em sua vida.

Mas algo bem nítido, é que além de muitas interpretações esta é uma série que fala sobre “autoconhecimento”.A cada morte conhecemos algo novo da personagem e aparentemente em alguns momentos ela também,

Um ponto interessante sobre a história, Nadia está no seu aniversário de 36 anos, para algumas culturas o aniversário simboliza o renascimento, ou ano que se retorna ao dia que se vem á luz, ou ainda como tradicionalmente mais conhecido, dia em que se comemora mais um ano de vida desde o nascimento.

Em cada morte a personagem volta sempre para o mesmo dia, o seu aniversário, que nos leva a questionar se ela realmente “viveu” esse ano de sua vida, aparentemente não.

Em todo o aniversário temos também um bolo que simbolicamente representa o que a aniversariante construiu em sua vida e parti-lo simboliza a partilha das conquistas do aniversariante com as pessoas que ama, e além do bolo temos a vela, que apaga-la simboliza apagar simbolicamente o ano que passo, marcando o recomeço da vida. ( algumas velas é mais difícil de apagar que outras não é mesmo....rs)

Bom no aniversário da nossa personagem, temos um bolo sem vela, ou seja, a nossa personagem por alguma razão não esta “apagando” o que passou, não esta se desapegando do passado para poder recomeçar, e esse bolo também nunca é partido, mas ele está lá, o que nos leva a pensar, nossa personagem teve conquistas ao longo da vida, mas ela não as partilhou com ninguém.

Avançando mais um pouco, podemos ver que a maioria das mortes de nossa personagem são por motivos banais, caindo da escada 4x, caindo em alçapão aberto na calçada, e em cada morte ela precisa recomeçar, voltando ao seu aniversário para viver novamente aquele dia, podemos questionar assim a habilidade de nossa personagem de lidar com frustrações diárias, coisas que naturalmente todo ser humano passa, sendo as mortes uma metáfora, podemos interpreta-las como a necessidade de encerramentos e finalizações na nossa vida, onde encerra-se um ciclo para se começar outro.

Como por exemplo, uma demissão, uma mudança de cidade, de carreira de profissão, o fim de um relacionamento, a conclusão de uma faculdade, em fim, e essas “mortes”, que ocorrem, quase por uma falta de atenção da personagem, leva-nos a questionar como ela tem vivido o encerramento destes ciclos na sua vida, se de fato ela tem feito isso, vivido o luto das perdas e encerramentos, ou esta apenas passando por cima de tudo como se fosse um trator, por que muitas vezes, em nossas próprias vidas fazemos isso, olhando sempre a frente, pensando que tem coisas mais importantes acontecendo que requerem mais a nossa atenção, esquecemos de viver o momento, e de dar a esse momento a sua importância na nossa vida e a sua devida atenção, o que na série leva a nossa personagem a essas mortes por falta de atenção.

Em um determinado momento da série Nadia conhece Alan, que assim como ela esta preso em um looping temporal “ Morrendo o tempo todo” como ele mesmo diz, e vivendo sempre o mesmo dia, assim como a nossa personagem, a partir de então por alguma razão suas vidas e suas mortes parecem estar ligadas.

Logo exploraremos o porquê.

Alan, é claramente o oposto de Nadia, após o encontro dos dois e a morte no elevador, seguimos agora Alan em seu retorno, e o vemos voltar em seu banheiro com tons mais claros, extremamente limpo e organizado, logo nas primeiras cenas com Alan podemos ver algumas características desse personagem, que é extremamente organizado (compulsivo), tem problemas com a sua autoestima e é bastante inseguro, preocupa-se com o corpo e com o que as pessoas pensam ao seu respeito, completamente diferente de nossa personagem Nadia.

E a partir do encontro, ambos passam a tentar entender, o porque de suas mortes estarem conectadas.

Em resumo, mas importante que saber a conexão entre as suas mortes, a série nos mostra o quanto a vida de ambos estava conectada, antes mesmo deles se conhecerem, o porque é simples, tudo o que fazemos afeta as pessoas a nosso redor, sejam elas conhecidas ou não, a série nos traz um pouco desse olhar, de que nenhum ser humano é uma ilha,e que viver em sociedade, é muito mais que uma organização coletiva.

De uma maneira não muito sutil a série mostra o quão egoísta é o mundo em que vivemos hoje, onde as pessoas só se preocupam com elas mesmas, em vias gerais ambas as mortes dos nossos personagens poderiam ter sido evitadas, se eles olhassem um pouco menos para seus próprios umbigos.

Para finalizar, gostaria de dizer que Boneca Russa é uma das melhores séries sim, não posso afirmar ser a melhor do ano, pois o ano ainda esta só começando, mais vale muito apena assistir, e se você já assistiu, deixe seu comentário sobre o que achou!

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